Não obstante uma penosa
falta de jeito para o desporto e uma coordenação motora mais do tipo “movimento
aleatório dos membros”, adquiri já depois da idade para ter juízo esta mania de
experimentar actividades físicas desafiantes. Nos últimos tempos tenho ido a várias
primeiras aulas em busca de uma forma física e saúde melhoradas, mas o que tenho
conseguido até agora é mais um acumular de experiências - divertidas para mim
mas suponho que traumáticas para quem assiste - do que propriamente uma
aprendizagem seja lá do que for.
Depois da
miserável experiencia com o personal trainer – responsabilidade totalmente minha, eu sei – decidi experimentar
aulas de grupo. Nas aulas de grupo é tudo mais simples e giro e divertido e
ninguém olha para nós (julgava eu).
Acho piada ao
género militar: GI Jane, calças de camuflado, top de alças preto, luvas, alta
agressividade cheia de pinta, de maneira que só o nome Body Combat motivou-me logo. Depois foi a apelativa descrição – uma
aula de fitness divertida e dinâmica, inspirada em artes marciais mas sem
contacto físico, à base de movimentos simples e na qual podíamos gastar cerca
de 700 calorias - perfeito para mim. Apesar de saber que algures cá dentro vive
uma Lara Croft ainda não tive o prazer de a conhecer, pelo que enquanto ela não
se mostra, tento manter-me a uma distância segura (para todos) dos desportos de
contacto.
Fui a correr.
Nada interessada
em repetir a triste figura do ginásio, desta vez comprei umas leggings pretas e
vesti uma t-shirt mais decente. Agarrei na toalha turca cor de rosa, nos ténis
da mais nova e na garrafa de água e, se bem que ainda muito longe do meu
fetichista look de mercenária, lá fui
toda enérgica.
Não se deixem
enganar, o facto de não haver contacto físico não retira nem um pingo de
violência à modalidade. Modalidade não, aquilo é uma recruta. Só o aquecimento
causou-me um frissom cardio-respiratório tal que juro, se o peito tivesse uma
porta, o meu coração tinha desandado dali para fora furioso.
Mas o pequeno não
se pirou. Nem ele nem eu. O resto da aula permanece uma nuvem vaga de movimentos
espasmódicos ao ritmo de uma batida sonora alucinada – agora são socos esquerda
direita, agora é de baixo para cima, agora troca os pezinhos para trás e para a
frente com pequenos saltos, agora mais umas murraças, mais uns saltinhos, saca
de pontapés para trás e para a frente e mais uns socos esquerda direita. Eu,
coitadinha, bem tento, mas o ritmo é frenético e, para quem assiste, aposto que
mais parece uma convulsão com 50 minutos.
Uma vez vi num
filme antigo esta frase: “os cavalos suam, os homens transpiram, as senhoras
cintilam”. Qual cintilam qual quê! Esta senhora sua e sua bem mais que um
cavalo, garanto. As minhas atléticas companheiras e companheiros podem
confirmar. Eu quase consigo apalpar a pena nos seus sorrisos encorajadores,
verdadeiramente condoídos do meu esforço. Sim, porque eu esforço-me.
Ah, e quando a
música acalma e penso que acabou a maluquice e desato a agradecer mentalmente à
entidade divina que me impediu de quinar ali, começam as loucas séries de
exercícios para os abdominais, coxas, glúteos e braços que depois do afogamento
em suor, me deixaram afogada em ácido láctico durante três dias.
Mas a verdade
seja dita, apesar de tudo, no final, enquanto nos contorcemos no chão a alongar
músculos que nem sabíamos que tínhamos e no dia seguinte vamos desejar nunca
ter tido, sentimos uma alegria inexplicável. Deixamos ali muito mais que 700
calorias, deixamos lá todas as irritações, stresses e merdinhas que nos ocupam
a cabeça muito mais do que deviam. E talvez um tímpano e um bocado de um pulmão,
mas nada que nos faça grande falta.
Fiquei fã.
Experimentem. Vão
ver que não estou a aldrabar, é mesmo divertido.
imagem tirada da net |
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