quarta-feira, 31 de maio de 2017

A propósito do Dia dos Irmãos (que eu nem sei se sempre é hoje)

Como gosto de rimas, aqui ficam umas para os meus manos neste dia dos irmãos (seja ele qual for, porque há tantos que eu não sei qual é que vale)

Há muito tempo éramos 4
Numa casinha em Cascais
4 pernas da mesma mesa
4 elementos da natureza
4 pontos cardeais

Fomos os primeiros inimigos
Mas vivemos como um gangue
4 Beatles à estalada
4 Fantásticos à gargalhada
4 partes do mesmo sangue.

Foram muitas aventuras
e mais foram as confusões
Uma cruz de 4 pontas
Em matemática as 4 contas
Somos as 4 estações

O passado fez-nos quem somos
O Futuro está na nossa mão
Somos um baralho de 4 naipes
4 Ninjas cheios de vaipes
As 4 câmaras do coração

Entretanto passamos a 7,
Irmãos nunca são demais
7 dias, 7 cores
7 anões trabalhadores
7 notas musicais

Somos sempre espectaculares
Mesmo quando afiamos os dentes
Somos 7 maravilhas
7 é o número das manilhas
Até já são 7 os continentes

Somos mais fortes todos juntos
Uma família da modernidade
7 virtudes, 7 pecados
7 mares agitados
7 colinas numa cidade








As pancadas os miúdos - das Pollys ao Slime

Isto de ter filhos tem o que se lhe diga. Julgam que é só o bem bom das fraldas com cocó e das papas cuspidas pela cozinha fora e das festinhas com trinta putos aos gritos e das noites mal dormidas e das faringites e dos vómitos de ranho e das discussões com o marido? Pois fiquem sabendo que há pior, a vidinha custa bem mais do que isto.

Refiro-me às obsessões que se contagiam entre as crianças mais depressa que os piolhos (outra das coisas boas da maternidade) e que os paizinhos primeiro ignoram, mas às quais, perante tamanha insistência, acabam por ceder (eu, pelo menos, vou cedendo a algumas).
Ao longo dos anos têm sido várias, aqui ficam algumas:


* Polly Pocket - uma coleção de algumas 738 mini bonequinhas de plástico, cada uma com 548 mudas de roupa em borracha que se rebentavam todas quando era eu a vesti-las e que as minhas filhas queriam ter todas. Eu bem explicava que as Pollys eram, tipo, milionárias e nós, tipo, nem por isso, mas elas, tipo, não se comoviam.


* os Littlest Pet Shop - Estes eram uns cãezinhos e gatinhos de plástico, com uns olhos enormes super fofos e completamente inúteis, já que nem roupinhas para mudar traziam. Os LPS vendiam-se em caixas de quantidades variáveis com preços entre o caro, o caríssimo e o estupidamente caro, até porque uma coisa que é só gira mas não serve para nada, custe quanto custar é sempre caro. 
* Os cromos do Mundial - outra loucura, mas a primeira que me fez andar num virote à procura do 17, do 45, do 78 e do raio que os parta porque o João já quase acabou a caderneta e tu não ligas nenhuma e ainda me faltam dezasseteeeeeeeeeeeeee


* os Beyblades - oh meu Deus, os Beyblades, a suprema pancada, o primeiro lugar do Top! O que começou por ser apenas mais um brinquedo em plástico parecido com um pião que se lançava numa arena também de plástico que estava sempre toda partida e por isso deu-nos cabo do chão da casa toda, de repente cresceu até à loucura de ter um filho a suplicar pela Fénix Vermelha de maneira tão pungente que certa manhã dei por mim na fila do Toys 'R Us, sim numa fila antes da abertura da loja, para ver se conseguia aquela merda. Como a Fenix não chegou, e eu tenho o problema de não conseguir faltar a uma promessa nem deixar a meio uma coisa que comece, investiguei como um detetive até arranjar na internet um rapaz que revendia Beyblades no mercado "paralelo", com quem me encontrei uma bela tarde numa rua em Lisboa para procedermos à transação. O puto ficou tão feliz que brincou com aquilo talvez durante uma semana inteira.


* As bolinhas de gel para decoração de vasos - Quem nunca andou horas enfiada em lojas do chinês à procura destas bolinhas que inchavam quando se metiam de molho que se acuse. E quem não teve de chamar o canalizador também. 

Entretanto houve aqui uma pausa na qual os meus filhos se interessaram mais pela cena virtual/ digital e me concederam umas merecidas férias. 

Mas recentemente surgiu mais esta bodega, que entretanto, sinais dos tempos, acho que já passou: 

* os Fidget Spinners - Outra estupidez completamente inútil, aparentemente desenvolvida para aliviar o stress de crianças hiperactivas, que custa 5€ no chinês mas chega aos 20€ na Fnac (eu só comprei do chinês, calma) e dura mais ou menos trinta segundos antes de cair ao chão e se desfazer em pedacinhos.

Recentemente, a minha filha mais nova aderiu a uma moda diferente, a última pancada. E é diferente porque não passa por comprar coisas, mas por fazer uma coisa: Slime.
Aos 12 anos, a miúda vive obcecada por Slime. E o que é Slime, perguntam vocês? Slime é uma gosma parecida com o que no nosso tempo era o Blandi Blub mas que se faz em casa (acho que também se vende feito mas não sei onde). É uma papa de consistência algures entre a plasticina e o ranho infetado, perfeita quando não se agarra aos dedos ao carregarmos com toques rápidos e secos, tem de fazer um barulhinho característico parecido com pequenos puns (sim, já sei tudo), e tem a utilidade de ficar dentro de uma caixa de plástico até secar e ir para o lixo. 
Portanto, neste momento a pequena vive no youtube a ver tutoriais em busca da receita perfeita, que passa por espalhar ingredientes como sabonete das mãos, detergente da roupa, borato de sódio, cola branca, amaciador de cabelo, soro fisiológico, creme Nívea e bicarbonato de sódio, em doses e ordens diferentes pela cozinha toda, enquanto vai mostrando por vídeo chamada às amigas como se faz o Slime perfeito. Porque tem que ser perfeito, percebes?
Eu cá percebo tudo, desde que deixes a cozinha limpa e arrumada. 
Percebes?

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Mais expectativas (um post em fascículos - parte 2)

E se, logo desde o momento em que ficamos grávidas, passamos a viver em crescente expectativa  Espero que esteja tudo bem. Espero que seja saudável. Espero que seja feliz. Espero conseguir ser boa mãe. Espero não engordar muito, então a partir do momento em que a criança nasce a nossa existência passa a ser toda ela uma gestão permanente de expectativas. De repente vivemos num estado constante de conflito entre o que desejamos/ esperamos/ fazemos tudo para que aconteça e o que acontece na realidade.
Mas as expectativas não são todas iguais. Há diversos tipos, consoante a fase em que nos encontramos:

A expectativa escatológica:
Esta é logo a primeira e caracteriza-se pela ansiedade causada pelas necessidades fisiológicas do bebé. De repente as fraldas, fluidos e gases emitidos pelas nossas crias são investigados com uma minúcia de fazer inveja ao CSI - o cocó não pode ser muito verde mas não deve ser amarelo, não pode ser duro mas não deve ser demasiado mole, não pode ser pouco, mas cuidado se for demais, não pode ser raro mas demasiado frequente também é mau. O arroto tem de ser audível, produzido nos dois minutos depois de comer, com ele apoiado sobre o ombro demora mais 30 segundos, com ele inclinado para a frente é mais rápido mas bolça, mas se não arrotar fica com soluços. O bolçado aceitamos que exista mas não pode ser torrencial e jamais conter mais de 0,005dl do leite que o bebé acabou de tomar ou então temos de lhe dar mais 30ml ou assim. Os puns, oh os puns. Os puns têm de ocorrer várias vezes por dia, nem que para isso tenhamos de espalmar os intestinos da criança com o rolo da massa. Têm de ser suficientes para aliviar as cólicas mas não tantos que se tornem um incómodo olfativo. Enfim, perceberam a ideia?

A expectativa paternal:
É a expectativa que colocamos no desempenho do pai e consome muitos anos da nossa vida (e da dele). A expectativa paternal tende a aumentar na proporção inversa da escatológica e na proporção directa da quantidade de filhos que se vai tendo: estamos exaustas, esperamos que ele chegue a casa a horas para os banhos; estamos fartas de cozinhar, esperamos que ele tome a iniciativa de fazer o jantar; o bebé está a dormir, esperamos que os gritos dele a ver a bola não a acordem;  é a festa da escola, esperamos que ele apareça e a horas; a criança está doente, esperamos que ele divida as faltas ao trabalho connosco; o mais velho tem piano, esperamos que ele leve a mais nova à natação; a mais nova tem médico, esperamos que ele vá buscar o mais velho; é o aniversário do puto, esperamos que ele colabore. Invariavelmente, parte destas acaba em discussão.

A expectativa conjugal:
É a expectativa que colocamos na relação e tem a característica engraçada de aumentar na proporção directa do nosso cansaço - quanto mais atarefadas, quanto mais cuidamos de tudo, mais expectativas criamos em termos de mimo e atenção.
É Dia da Mãe, esperamos ter um dia especial; estamos gordas, esperamos que ele não sugira ir à praia; mudamos a sala, esperamos que ele elogie; fazemos uma refeição, esperamos que ele elogie; lavamos roupa, esperamos que ele elogie; vamos ao supermercado, esperamos que ele elogie; arrumamos os roupeiros todos, esperamos que ele elogie; é o nosso aniversário esperamos que ele perca mais de cinco minutos a comprar-nos um presente; estamos com gripe, esperamos que ele nos faça um chá; estamos exaustas, esperamos que ele segure as pontas.
Ou então só esperamos um abraço, um sorriso cúmplice, uma palmadinha nas costas simbólica. Mas esperamos sempre alguma coisa. Estamos cansadas, percebem? Cansadas, não, exaustas. Com raízes, com unhas partidas, com um cinto de chumbo atado às ancas. Percebem? Às vezes não, nós sabemos. É complicado. Até para nós é complicado, já vamos ver isso.
(Maridos, uma dica para vocês: abram os olhos e os ouvidos. Observem. Ao contrário do que vocês dizem, nós somos bastante claras, vocês é que estão distraídos).

A expectativa da super mulher:
Esta é a pior porque somos nós que a impomos a nós mesmas. Todas nós temos a mania de não podermos falhar, que errar não é uma opção. Aquilo de dizermos que os outros é que esperam isso de nós, bem, isso eu ainda estou para perceber se acontece mesmo ou se é uma invenção da nossa cabeça. Estou convencida de que nós é que achamos que temos de fazer tudo, tudo sempre e tudo sempre bem feito. Achamos que temos que ser mulheres à prova de bala, apresentar os filhos sempre impecáveis, trabalhar fora e bem, manter a casa em ordem, receber como a realeza e zelar pela felicidade no casamento de unhas pintadas, nuances perfeitas, maquilhagem no ponto, saltos altos e barriga encolhida.
Ui, e se não, o que é que pode acontecer? Tiram-nos os filhos, somos despedidas, abandonadas pelo marido, renegadas pelos amigos e achincalhadas pelos vizinhos?
Quer dizer, eles podem ficar barrigudos, carecas, roer as unhas e ressonar como um motor a quatro tempos que é na boa, mas nós ficamos ansiosas e deprimidas se não formos um andróide com o aspecto da Alessandra Ambrosio, o cérebro da Marie Curie, a paciência da Maria Von Trapp, o talento da Nigella e a organização do Ikea. Porquê?

Porque somos... qual é mesmo o termo científico? "Parvas". É isso. Porque somos umas parvas. Porque ao entendermos que sabemos fazer tudo melhor e de forma mais eficaz e mais... vá, melhor, chamamos a nós a responsabilidade de sermos nada menos que perfeitas. E a exigência de perfeição em nós acaba por se reflectir numa exigência de perfeição nele - no marido/ companheiro/ gajo que anda por ali. Essa exigência, ao não ser correspondida com a mesma intensidade, acaba por se transformar em desilusão.

Eu sei que a exigência está relacionada com a necessidade de controlo. Nós queremos, nós precisamos de ter a vida controlada. A bem dizer, tem de estar um bocado controlada, caso contrário é o caos. Mas não é preciso estar toda controlada, controlada em todos os momentos e ínfimos detalhes, até porque a vida é uma maluca imprevisível e troca-nos as voltas sempre que lhe apetece e sem pré-aviso. Só que a exigência gera expectativa e a cabra da expectativa gera desilusão. E a desilusão gera um monte de problemas- uns graves tipo rugas e outros menos graves tipo divórcio.

A verdade é que, com vontade tudo se resolve. O papel que cada um desempenha na relação tem de estar claro para ambos. As tarefas a desempenhar por cada um têm de estar claramente definidas, aprovadas e ambos têm de estar focados em cumprir a sua parte.
Se assim for, não precisamos de estar cá com expectativas, pelo contrário, podemos deixar a vida surpreender-nos.

Se assim não for, bem, a porta da rua é serventia da casa.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Mas qual é o problema das mulheres? (Um post em fascículos - Parte 1)

Aparentemente esta é a million dollar question, mas na verdade a resposta é bastante simples.

Como sou uma querida e gosto de prestar serviço publico, resolvi redigir um manual com algumas das situações em que os homens se queixam de não perceber qual é o problema das suas mulheres.
Claro que há sempre o risco da injustiça causada pela generalização - eu sei que não somos todos iguais. Mas no geral, somos bastante parecidos.

Vamos começar pelo principio - o namoro:

O namoro é a fase dourada de uma relação. O casal não vive na mesma casa e encontra-se quando quer e pode. Estão ambos vestidos e calçados (mas rapidamente deixam de estar) de dentes lavados e banho tomado. As necessidades fisiológicas são resolvidas no espaço de cada um, as refeições são feitas fora ou em casa de um deles, mas numa base facultativa. Não há filhos, não há contas conjuntas para pagar e há sexo. Muito sexo. Sexo bom e sexo frequente. Sexo só porque sim.
Se ele disse que telefonava e lhe gorou as expectativas a discussão resolve-se indo cada um para seu lado durante dois ou três dias se for preciso. E depois há sexo. 

Corre tudo tão bem que um dia o feliz casalinho decide casar.
Tratar de um casamento dá um trabalhão. É preciso pesquisar, comparar e seleccionar uma infinidade de merdas. A começar pela data e passando pelo orçamento, o local, as flores, a decoração, os brindes, as músicas, a lista de convidados, a roupa de cada um, as alianças, a distribuição dos convidados pelas mesas e terminando na lua de mel, tudo é motivo de discussão e todas elas terminam com um "a minha expectativa era que te envolvesses mais".

Depois de tanta confusão às vezes é um milagre ainda haver casamento, mas assumindo que há, nesta fase surgem novos ritmos, novas descobertas e novas responsabilidades. O casal começa a conhecer-se de uma forma diferente, mas as pequenas querelas são facilmente ultrapassadas porque há o mais importante - vontade. Existe sempre alguma fricção, mas nesta fase, geralmente, tudo se supera.
Ela gosta de cozinhar para ele e fica triste porque ele não colabora na arrumação da cozinha. Ela pede-lhe um lanchinho e fica desiludida porque ele lhe leva torradas e nunca reparou que ela não come pão. Ela corta o cabelo e zanga-se porque ele já não olha para ela como dantes.
Nada de grave, é tudo uma questão de gerir as expectativas.

E estão tão felizes que decidem ter o primeiro filho.
Ela está grávida desde o primeiro dia, ele demora a adaptar-se, às vezes nem se lembra. Ela tem sono, ele quer espairecer depois do dia de trabalho. O corpo dela muda, o dele não. Ela não pode beber, fumar, comer saladas fora de casa, sushi ou carne crua. Ele continua a ir tomar um copo com os amigos de vez em quando.
Ela fica desiludida, queria mimo tipo call center: 24/7. Estava na expectativa de viver uma gravidez partilhada com a mesma intensidade pelos dois.

Ela toma ferro, que faz prisão de ventre, toma anti ácidos porque tem azia, toma magnésio porque tem caimbras, faz dieta porque está quase com diabetes. Ele anda todo contente.
Ela fica triste porque ele continua a fazer a vida dele como se ela estivesse normal. Se fosse ao contrário, ela seria incapaz de lhe fazer isso a ele.

Ela não consegue dormir, não consegue estar acordada, não consegue andar, não consegue apertar os sapatos, nem sequer se consegue calçar. Mesmo que conseguisse, está tão inchada que os sapatos nem lhe servem. A roupa que veste está reduzida a três peças. Sente-se pesada, cansada e ansiosa.
Ele come o que lhe apetece e, se puder, dorme até ao meio dia.
A expectativa era que ele a compreendesse, mas ele não compreende e ela chora.

A hora aproxima-se, há que fazer o ninho. Ele ainda não está bem mentalizado. Ela chama-lhe a atenção, é preciso tratar de algumas coisas - carrinho, mantas, biberões, esterilizadores, soutiens de amamentação, fraldas, roupinhas separadas em saquinhos com etiquetas: Babygrow ou cueiro? Body de manga curta ou comprida? Fraldas bordadas a amarelo não é foleiro?  Qual a melhor máquina para tirar o leite? Ele acompanha-a na escolha de algumas, mas vai desinteressado, contrariado e não tem pachorra.
Ela amua e acaba por decidir ir com a mãe, que também conduz mas não reclama.
Sinceramente, estava à espera que ele se envolvesse mais!

Nesta fase acontecem algumas discussões porque o quarto tem de ser pintado e o berço tem de ser montado, mas ele sabe que têm tempo, não vê a urgência. Ela anda angustiada porque tem medo de ter a criança e não estar pronta para a receber. Ele não entende o stress, não há nada que não se possa resolver depois do bebé nascer. Ela discorda. Pó é incompatível com um recém-nascido. Tintas são incompatíveis com um recém- nascido. A vida é incompatível com um recém-nascido, percebes? Não, ele não percebe.
Ela sente-se tão desamparada, não estava nada a contar com isto. Esperava que ele fizesse como o marido da Joana que um belo dia, enquanto ela estava a trabalhar fez a mudança de casa deles sozinho.
Ele irrita-se, já nem a pode ouvir.
Num sábado em que ele vai à pesca, com a ajuda de uma amiga, ela resolve pintar o quarto da criança e montar o berço. Ele chega a casa de rastos, atira-se para o sofá e decide que vão jantar fora. Ela não quer ir, está cansada, tem contracções e justifica-o mostrando-lhe o trabalho que teve e como está bonito.
A expectativa é que ele lhe dê um abraço, que a repreenda carinhosamente, valorize o seu esforço, elogie o resultado e vá fazer o jantar. O que ele faz é amuar porque ela está grávida e não devia cansar-se e só fez aquilo porque tem a mania de querer tudo à maneira dela e se ele disse que ia fazer, é porque ia fazer.

Portanto, já perceberam qual é o nosso problema?
Exacto, as expectativas. Sempre as cabras das expectativas.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

A problemática do Bikini

Gosto de praias. As praias são bonitas, proporcionam bons mergulhos e são o único sitio onde os nossos filhos podem fazer chichi no chão sem levarem três gritos.
Contudo, também padecem de um problema que estraga um bocado a experiência - costumam ter outras pessoas. Não tenho nada contra outras pessoas, até gosto de algumas, mas é mais quando estou vestida. Ultimamente, chegada esta época do ano, a simples ideia de desnudar as carnes em público aterroriza-me tanto que talvez até ultrapasse o pânico de apanhar chuva depois de esticar o cabelo.

A problemática advém do facto de eu ser uma pessoa que se aplica nas actividades de inverno que mais exigem treino e dedicação - comer bem e estar quieta. Ora, sendo eu uma entusiástica praticante de ambas, é natural que procure aperfeiçoar a minha técnica enquanto as condições atmosféricas o permitem, só que depois não posso fazer como o Ferrero Rocher e desaparecer quando fica bom tempo. De maneira que, quando o calor aperta, o meu sistema nervoso fica... nervoso.

No fim de semana passado estava bom tempo. Bom tempo na Primavera significa perspectiva de ir à praia e essa perspectiva exige, como é óbvio, uma prévia e minuciosa auditoria à corpulência adquirida no ano transacto.
Vai daí, imbuída de uma coragem apenas comparável à de quem salta da prancha de 10 metros para dentro de uma piscina vazia forrada com pregos de aço em brasa, esta vossa amiga decidiu experimentar um fato de banho.

Trata-se de uma decisão penosa, garanto, que apenas consegui levar a cabo graças à preciosa colaboração de um copázio de branco fresquinho que tinha sobrado do jantar da véspera.
Entrei no quarto e ajoelhei junto da cama para retirar a caixa onde arrumo os fatos de banho. Já que estava de joelhos e ainda segurava o copo de vinho, pareceu-me uma boa oportunidade para pedir a algum santinho que me fizesse magra e bronzeada. Como sei que isto não é só pedir, também mostrei arrependimento sincero por todas as vezes em que fui uma alarve, jurei sem figas que nunca mais tocava num chocolate e prometi solenemente a partir daquele dia passaria a ir ao ginásio sem ser para ir buscar a minha filha.

Muito mais motivada, dei então início à peritagem. 
É sabido que os fatos de banho são como as calças nas lojas - na mão parecem sempre maiores - mas eu espremi-me para dentro daquele pedaço de licra com a determinação de alguém cuja vida depende de enfiar uma alforreca numa palhinha.
Quando por fim consegui, olhei para o espelho e o panorama era tão assustador que achei que me tinha enganado e estava a ver o "Disgusting Creatures" no Discovery Channel. Mas não. A triste realidade é que aquele cruzamento entre uma foca albina e a Barbie Patinadora era eu (já que estamos em época de milagres, um agora vinha bem a calhar).

Ponderei as alternativas: ou desfazia o cabrão do espelho ao pontapé, mas nunca se sabe se o azar não vem em forma de quilos e eu definitivamente não precisava de mais sete, ou borrifava no assunto - assimcomássim também não é o fim do mundo - e ia fazer umas torradinhas.

Tragédia, tragédia foi descobrir que não havia manteiga.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Alguém que me explique, por favor #2 - Margarina Planta

Durante muitos anos estes senhores andaram pelos supermercados a "apanhar" senhoras para a Prova de Sabor Planta: as donas de casa iam muito bem nas compras quando, sem que elas esperassem, lhes era oferecido um pedaço de pão barrado com um gorduroso sucedâneo de manteiga, que elas devoravam com religioso fervor. Mas aquilo devia ser uma sensação do caraças. Percebia-se pelas expressões de deleite que elas ficavam tão entusiasmadas quando saboreavam Planta como eu quando via isto
E eles vendiam.

Acontece que o tempo foi passando, as senhoras cresceram muito, nós crescemos muito, e um belo dia eles acordaram e perceberam que a Planta estava para as margarinas como as pinturas rupestres para o Instagram. Vai daí, decidiram pôr-se em forma e recuperar o tempo perdido (que é como quem diz, decidiram ficar mais novos) da mesma forma que hoje toda a gente faz: desataram a correr.

É sabido que devemos começar devagar, umas caminhadas primeiro, umas corridas curtas depois. Mas estes senhores em plena crise de meia idade (onde é que eu já vi isto?) atiraram-se logo ali a uma ultra maratona, daquelas onde uns quantos marados decidem correr 100km pelo deserto, sabem?
Claro que o resultado só podia ser um - câimbras, desidratação e alucinações.
Ou seja, isto:


Quer dizer, logo para começo de conversa, um dia vamos ao café comer um pão com manteiga e desatinamos porque o senhor Luís voltou a meter margarina, mas no dia seguinte é suposto adivinharmos que não queremos "creme para barrar de origem vegetal"? Pois.
Mas tudo bem, se fosse só isso até percebia. São sinais dos tempos, glúten, dieta paleolítica e essas merdas. 

Mas o que eu gostava que me explicassem é a lógica narrativa da presença do marmanjo semi nu na cozinha. Por amor da santa, somos pessoas civilizadas, todos aprendemos que andar despido em casa é mau, mas na cozinha é tão péssimo que até deve ser pecado. Então lá porque agora somos jovens não temos maneiras? Ele sequer lavou as mãos?
Além disso ainda pode ser perigoso, ali perto das facas e tudo. É que vê-se logo que ele tem problemas mentais, está para ali a olhar para a caixa da Planta como se lhe fosse fazer uma pega de caras, até enerva.

Como se não bastasse o erro de casting, ainda lhe pespegaram com uma frase toda mal amanhada e sem sentido nenhum. 
Meus senhores, não sei sobre vocês, mas eu cá estudei e sei que para a mensagem ter coerência tem de haver ligação entre a imagem e o texto. Agora o rapaz também é de origem vegetal? Quer dizer, se ele é, então nós somos todos, refiro-me à humanidade, de origem vegetal? Não, pá, nós somos animais. Se têm dúvidas vejam a caixa de comentários de qualquer jornal online. 
Ou estamos antes perante uma objectificação do homem que o reduz a um conceito simplista de planta comestível?
Desculpem lá mas não está claro. 
E o sabor irresistível? Já agora esclarecia também isso, o que é que nele tem um sabor irresistível? Sim, concretamente. Que parte dele tem um sabor irresistível?
Se isto fosse um anúncio de preservativos ecológicos, eu percebia, agora assim, perdoem-me mas não tem ponta por onde se lhe pegue.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Para o raio que vos parta mais o Dia da Mãe!

Meus queridos filhos:

Ontem de manhã vocês perguntaram-me o que é que eu queria de presente de Dia da Mãe.
Disse-vos que não queria nada, que o Dia da Mãe não devia ser mais um pretexto para as marcas venderem coisas que na realidade não nos fazem falta nenhuma, mas que era menina para apreciar um dia de paz e sossego.
Vocês amuaram, disseram que isso não era presente, que eu tinha que escolher uma coisa para vocês comprarem.
Sentaram-se no computador e elucidaram-me sobre as ofertas disponíveis na Internet.

Tratamentos de estética, depilações definitivas, inscrições em ginásios, artigos de beleza, serviços de maquilhagem, cremes anti idade, roupas, adereços, lingerie, sapatos, máquinas de café, telemóveis e mais um monte de cangalhada inútil. Comum a todos, a promessa de deixarem qualquer progenitora com os olhos revirados de êxtase perante as generosas oferendas dos seus filhos queridos, que tanto lhe devem (confesso-me ainda ligeiramente aturdida com a promoção nos robots de cozinha da Fnac. Se eu fosse de dizer palavrões metia agora um aqui).

Ainda vocês não tinham acabado a pesquisa, já eu tinha chegado a conclusões capazes de me fazer saltar directamente para o último desafio da Baleia Azul:
Para estes senhores, as mães são umas velhas, feias, encarquilhadas, flácidas, mal cheirosas, peludas, cansadas e mal vestidas, para quem desejar um curso intensivo de boxe, um lugar cativo no Sporting ou um desconto de 50% na Gin Lovers é tão impensável como o Professor Marcelo dormir a sesta, e que têm em comum uma única ambição: serem mais giras. Seja na sala, na cozinha, no trabalho ou com as amigas, as Mães não sonham mais nada, não pensam mais nada, só em serem giras.

Isto, como é óbvio, é uma estupidez e eu apressei-me a esclarecer-vos porquê.
Quer dizer, se esses senhores acham que sou uma desmazelada com o aspecto de uma tartaruga mal amanhada deviam ver-me ao acordar.
Agora, estarem convencidos que a ideia de ficar mais gira me deixaria histérica de felicidade, isso ofende-me. Nem todas podemos, ou queremos, andar sempre impecáveis; nem todas vivemos para ser a rainha do baile. A beleza vem de dentro, não se julga um livro pela capa, e...
Foi quando vocês me interromperam:
- Mas qual é o teu problema, não gostavas de ser gira?

Ui!
Se eu não gostava de ser gira.
Os meus filhos perguntaram-me se eu não gostava de ser gira.
Meninos, cuidado, a mãe já passou dos quarenta. Perguntas dessas são perigosas, tocam aqui num nervo capaz de fazer o Etna parecer um estalinho de carnaval, percebem?
Pois se eu gostava se ser gira... Só para esclarecer, ser gira é passar os dias a cuidar de mim e ser magra e hidratada e ginasticada e elegante e cheirosa e bem vestida, certo?´
Gostava, claro. Gostava muito, era o meu sonho. Afinal é só isso que as mães querem, não é verdade? E gostava que não houvesse guerra, nem fome no mundo e de saber que a Europa não é um estado americano.
Ah, gostava mesmo. E vocês querem oferecer-me isso? Que bom!
Afinal parece que sempre me vão oferecer uma prenda. Pois seja. Aceito.
Mas para ficar mesmo gira tenho de ser eu a escolher o método. Posso, não posso?
É que descobri um inovador tratamento de SPA Caseiro e queria imenso experimentá-lo. Tem uma pequena desvantagem, os tratamentos têm de ser aplicados pelos filhotes, mas não faz mal, pois não? A mãe vai ficar gira.
Olhem, não me apetece esperar por domingo, começamos já amanhã, sim meus queridos?

O tratamento começa por volta do meio dia (mais coisa, menos coisa) com a sessão de Emagrecimento;
Está cientificamente provado que para perder peso temos que dormir bem. Por isso, quando acordarem façam o favor de ficarem quietos e calados. Agarrem-se aos telemóveis, à consola ou ao computador, não me interessa. Finjam-se de mortos. Não respirem. E não entrem na cozinha a não ser depois de eu ter acordado naturalmente. Esqueçam as aulas.

Depois do Emagrecimento passamos à Aromaterapia;
O cheiro do alho, da cebola e do refogado agarra-se-me às mãos e aos cabelos e faz-me sentir uma sopeira. Vocês já são crescidos, tratem do almoço. Ou jejuem, por mim tanto faz. Eu estarei sentada na sala com os pés em cima do sofá a ver uma série. Ou um filme. Ou a dormir, não sei, não me enervem, faço o que me apetecer.

Após os aromas, daremos então início à sessão de Manicura;
Cá em casa temos uma despensa e alguns armários onde podem encontrar o aspirador, detergentes e panos de várias cores e feitios que me rebentam as cutículas e as unhas todas. Já que eu estou a ficar gira e que vocês faltaram às aulas, limpem, lavem, arrumem e aspirem. Como deve ser. Ah, e a roupa, lavem a roupa! E estendam-na.

Para finalizar, teremos o meu favorito, o tratamento de Estética;
Como sabem, o stress faz imensas rugas. Poupem-me às vossas reclamações antes que eu fique com a tromba do Carrilho. Trabalhem calados e façam de conta que são invisíveis. Façam de conta que eu sou invisível. Não me chamem, não me perguntem nem as horas, e não me peçam nada, nem sequer licença se arrotarem.

Meus amores, no final deste dia maravilhoso acho que vou ficar tão gira que tenho que aproveitar e celebrar com os meus filhotes.
Sabem aquela festa no Urban onde tinham pedido para eu vos levar? Vou fazer melhor, vou convosco. Vamos divertir-nos à grande!

Até vou fazer o bigode e vestir um soutien. Talvez até lave os dentes.

Beijinhos

Mãe.