quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Indo eu, indo eu a Caminho de... Santiago #18 - Etapa 4 - Caldas de Reis - Padron (Santiago)

Ok, esta coisa do albergue ter a sala de refeições fechada é chata.  Como batemos com o nariz na porta acabamos a tomar o pequeno almoço sentadas na recepção, mas pronto. Fez-se.
Ainda estava noite cerrada quando partimos. Não se via vivalma nas ruas e nós sabíamos tanto para que lado ir como se estivéssemos em pleno deserto do Sahara. Vagueamos um pouco por ali quando reparamos numa mochileira com uma cabeleira tão loira e encaracolada que parecia feita de fusili, a caminhar de mapa numa mão e lanterna na outra, toda rápida e decidida. Fomos atrás dela. Era israelita, cerca de 50 anos, e estava a fazer o caminho com a mãe, que estava cansada e nesse dia faria a etapa de táxi. Explicou-nos a direcção mas não estava para conversas, queria despachar-se, e desandou. 
A nossa ideia era fazer a etapa até Padron e deixar para o dia seguinte o resto do percurso até Santiago de Compostela. Fizemos os primeiros cerca de 20 km num instante. Estava fresco, os meus pés aparentemente estavam a habituar-se à selvajaria a que eu tinha decidido submetê-los nos últimos dias, tudo bem. 
Chegamos a Padron antes da hora do almoço, frescas e bem dispostas. Sentamos-nos num banco de uma praça a comer barritas da Tia Cátia e a beber água, olhámos em volta, olhámos uma para a outra...  e decidimos continuar. Afinal dali a Santiago era só mais uma tirada parecida com a que tínhamos acabado de fazer tão bem, seriam 40 km num dia, já dois dias antes tínhamos feito 38km e sobrevivido. 
Sabíamos que íamos chegar tarde, decidimos não arriscar a partida sem termos a dormida garantida. E fizemos tão bem. Não havia vagas em nenhum dos hotéis, albergues e hostéis para onde ligámos e estávamos mesmo quase a desistir quando por fim conseguimos reservar duas camas num hostel que nem sequer percebemos onde era ao certo. Mas tínhamos consciência de que chegaríamos muito cansadas, essa salvaguarda deixou-nos mais confiantes. 
Demos uma volta em Padron, terra de onde são originários os pimentos de Padron, uns são picantes outros non, como disse um dos alentejanos com quem partilhamos a mesa na véspera, entrámos na bela Igreja, conversamos com uma senhora muito simpática que nos explicou muitas coisas, entre elas o significado da concha dos peregrinos: os apóstolos eram todos pescadores, a concha simboliza o mar. Também, pelo seu formato, serve para comer e para beber, e por isso para partilhar, é este o espírito do peregrino. 
Estava certo, decidimos comprar uma concha para cada uma em Santiago, só então seríamos peregrinas encartadas.
Por volta das 13h partimos rumo a Santiago de Compostela.

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