quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Another day at the office #2

Pois que tenho a voz grossa, tem vindo a engrossar com a idade mais ou menos ao mesmo ritmo que a cintura. Em interações via telefone, esta singela característica tem estado na origem de algumas situações um tanto ou quanto embaraçosas, mais para o interlocutor do que para mim, que me estou positivamente nas tintas.

Há tempos quis marcar uma manicura de urgência. Queria experimentar fazer gelinho nas unhas. Andei por aí a perguntar e indicaram-me dois sítios aparentemente bons e baratos. Liguei para o primeiro e atende uma senhora:

Ela (arrastada): Tooou?
Eu (hesitante, achei que me tinha enganado): … sim?
Ela (mais arrastada): Siiiiiiim?
Eu: De onde fala?
Ela: Para onde deseja falar?
Eu (já a ficar enervada): Para o sítio tal e tal
Ela: É daqui. Diga.
Eu: Queria marca umas unhas de gelinho…
Ela: Para si? (pausa) 
        ... ou para a sua namorada?
Eu: (pausa)... Para mim...


Resumindo, depois de algumas tentativas conclui-se que ou ela é a profissional mais ocupada do planeta ou não gostou mesmo nada da ideia de ter lá um homem a fazer gelinho.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Queres ficar com um sorrisão? Body Combat é a solução!

Não obstante uma penosa falta de jeito para o desporto e uma coordenação motora mais do tipo “movimento aleatório dos membros”, adquiri já depois da idade para ter juízo esta mania de experimentar actividades físicas desafiantes. Nos últimos tempos tenho ido a várias primeiras aulas em busca de uma forma física e saúde melhoradas, mas o que tenho conseguido até agora é mais um acumular de experiências - divertidas para mim mas suponho que traumáticas para quem assiste - do que propriamente uma aprendizagem seja lá do que for.
Depois da miserável experiencia com o personal trainer  – responsabilidade totalmente minha, eu sei – decidi experimentar aulas de grupo. Nas aulas de grupo é tudo mais simples e giro e divertido e ninguém olha para nós (julgava eu).
Acho piada ao género militar: GI Jane, calças de camuflado, top de alças preto, luvas, alta agressividade cheia de pinta, de maneira que só o nome Body Combat motivou-me logo. Depois foi a apelativa descrição – uma aula de fitness divertida e dinâmica, inspirada em artes marciais mas sem contacto físico, à base de movimentos simples e na qual podíamos gastar cerca de 700 calorias - perfeito para mim. Apesar de saber que algures cá dentro vive uma Lara Croft ainda não tive o prazer de a conhecer, pelo que enquanto ela não se mostra, tento manter-me a uma distância segura (para todos) dos desportos de contacto.
Fui a correr.
Nada interessada em repetir a triste figura do ginásio, desta vez comprei umas leggings pretas e vesti uma t-shirt mais decente. Agarrei na toalha turca cor de rosa, nos ténis da mais nova e na garrafa de água e, se bem que ainda muito longe do meu fetichista look de mercenária, lá fui toda enérgica.
Não se deixem enganar, o facto de não haver contacto físico não retira nem um pingo de violência à modalidade. Modalidade não, aquilo é uma recruta. Só o aquecimento causou-me um frissom cardio-respiratório tal que juro, se o peito tivesse uma porta, o meu coração tinha desandado dali para fora furioso.
Mas o pequeno não se pirou. Nem ele nem eu. O resto da aula permanece uma nuvem vaga de movimentos espasmódicos ao ritmo de uma batida sonora alucinada – agora são socos esquerda direita, agora é de baixo para cima, agora troca os pezinhos para trás e para a frente com pequenos saltos, agora mais umas murraças, mais uns saltinhos, saca de pontapés para trás e para a frente e mais uns socos esquerda direita. Eu, coitadinha, bem tento, mas o ritmo é frenético e, para quem assiste, aposto que mais parece uma convulsão com 50 minutos.
Uma vez vi num filme antigo esta frase: “os cavalos suam, os homens transpiram, as senhoras cintilam”. Qual cintilam qual quê! Esta senhora sua e sua bem mais que um cavalo, garanto. As minhas atléticas companheiras e companheiros podem confirmar. Eu quase consigo apalpar a pena nos seus sorrisos encorajadores, verdadeiramente condoídos do meu esforço. Sim, porque eu esforço-me.
Ah, e quando a música acalma e penso que acabou a maluquice e desato a agradecer mentalmente à entidade divina que me impediu de quinar ali, começam as loucas séries de exercícios para os abdominais, coxas, glúteos e braços que depois do afogamento em suor, me deixaram afogada em ácido láctico durante três dias.
Mas a verdade seja dita, apesar de tudo, no final, enquanto nos contorcemos no chão a alongar músculos que nem sabíamos que tínhamos e no dia seguinte vamos desejar nunca ter tido, sentimos uma alegria inexplicável. Deixamos ali muito mais que 700 calorias, deixamos lá todas as irritações, stresses e merdinhas que nos ocupam a cabeça muito mais do que deviam. E talvez um tímpano e um bocado de um pulmão, mas nada que nos faça grande falta.
Fiquei fã.
Experimentem. Vão ver que não estou a aldrabar, é mesmo divertido.
imagem tirada da net

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Para começar, toca a caminhar

“Roma e Pavia não se fizeram num dia”
“Devagar se vai ao longe”
“Com paciência e perseverança, tudo se alcança”
“Quem tudo quer tudo perde”
“A pressa é a mãe do arrependido”
“Tostão a tostão, faz um milhão”
“Depressa e bem, não há quem”
Podia ficar aqui o dia todo, mas acho que já dá para perceberem a ideia: não se matem logo ali ao principio porque não é assim que vão obter mais resultados, correm o risco de se lesionarem e vão acabar por desistir.
Estamos a falar de saúde, mas de melhorar a saúde não de dar cabo dela.

Já aqui disse que foi quando fiquei desempregada que decidi mudar o meu estilo de vida. Nessa altura procurei manter-me intelectualmente activa, habituada que estava a uma certa dinâmica mental, e inscrevi-me numa formação em Lisboa. Moro a cerca de 30 quilómteros da capital, num sítio ermo onde mais depressa encontro um coelho que um autocarro, de maneira que fiz as contas ao tempo e dinheiro que teria de gastar para ir e voltar quer fosse de transportes quer fosse de carro – com portagens, gasolina e estacionamento. A combinação que saía mais vantajosa era ir de carro até à Av.José Malhoa, onde o estacionamento é zona verde, e fazer a pé o percurso restante até ao local da formação, perto do El Corte Inglés. A distância não era grande, cerca de 1,5 quilómetros, mas nos primeiros dias custou-me imenso. Arrastava-me pela rua fora, completamente desorientada – Lisboa é para mim um mistério tão insondável como bater natas em chantilly – e chegava à aula transpirada e exausta, pronta para tomar um duche e voltar para casa. Ainda ponderei o investimento de estacionar à porta do centro de formação, mas era ridículo de tão caro. E assim, durante 3 meses, lá fui e voltei, 3 quilómetros a pé todos os dias.
Como era Inverno caminhava ao frio e à chuva, o que no início também causou grande confusão e desconforto a esta assumida automóveldependente (especialmente devido ao estado lambido, empastado e nojento em que ficava o meu cabelo) mas a verdade é que adaptei o vestuário e o calçado, comprei um pacote de elásticos para que o meu visual se mantivesse em níveis apropriados a um ser humano não electrocutado, e ao fim de pouco tempo já me sabia bem o passeio.

Em suma, para começar em beleza, o melhor exercício que há é mesmo andar a pé. Caminhar é natural, só exige o esforço que quisermos, pode fazer-se em qualquer altura do dia, em qualquer lugar, sem recurso a equipamentos especiais e não é preciso aprender. 
Faz bem às articulações, à disposição, à tensão arterial, à pele, ao ambiente, à barriga, ao rabo... a tudo.
E a melhor parte, é completamente grátis.  




domingo, 10 de dezembro de 2017

Another day at the office

Há uns dias fui ao centro comercial Colombo. Fui por obrigação profissional, porque ninguém me apanha ali por opção. Lido mal com espaços muito grandes e tenho graves problemas de orientação em estacionamentos, de maneira que vou lá o mínimo possível.
Mas fui. Felizmente acompanhada.
Apesar de ter Via Verde no carro, nem sei bem porquê, tirei um bilhete à entrada do estacionamento. Guardei-o religiosamente, ciente da gigantesca probabilidade de lhe perder o tino. Fixei o lugar, tudo direitinho, e quando saímos, Milagre! eu sabia onde estavam ambos – o carro e o bilhete. Dirigi-me a uma caixa automática, abri a carteira e verifiquei que não tinha um tostão. Já a minha amiga sacava da carteira quando reparei que a caixa do lado permitia pagamentos com cartão multibanco. Toda contente lá fui experimentar, nunca tinha utilizado uma máquina daquelas.
Correu bastante bem, foi rápido e viemos embora. Quando estávamos quase no carro lembrei-me que tinha deixado o bilhete pago na máquina. Voltamos atrás, a minha amiga perguntou ao senhor que estava a pagar se por acaso o tinha encontrado e o senhor estendeu-lho.
Agradecemos aliviadas, voltamos para o carro e arrancamos em busca de uma saída. Já disse que detesto aquele centro comercial e esta é uma das razões: podemos morrer de fome e sede e afogar-nos em xixi antes de encontrarmos uma saída. Mas depois de voltas e mais voltas lá conseguimos. Enfiei o bilhete na ranhura e apareceu uma mensagem antipática a dizer vire o bilhete. Nem se faz favor nem nada, só assim: vire o bilhete. E eu virei. Mas a mensagem apareceu de novo: vire o bilhete. E eu virei. E fui virando o bilhete de um lado para o outro, de cima para baixo, mas a máquina continuava casmurra: vire o bilhete. O par de carros atrás de nós começou a compor-se numa fila jeitosa e eu decidi tocar à campainha a pedir ajuda. Enquanto esperávamos os stressados da fila começaram a buzinar, aquelas cenas do costume como se ajudassem alguma coisa. Lá apareceu um rapazinho todo simpático que olhou para o meu bilhete e disse: “minha senhora, isto não é o bilhete, é o recibo”.
Como o recibo? E o bilhete onde estaria então? Na máquina, talvez. Sugeriu então que eu voltasse atrás para ver se o encontrava. Eu olhei para ele com atenção, só para verificar se ele não estava a gozar comigo. Então como poderia eu saber qual era a máquina onde tinha feito o pagamento? Ele nem tinha a noção do milagre que era eu ter encontrado o carro, quanto mais. Além disso, se eu tinha ali o comprovativo do pagamento não bastava para me abrirem a cancela? Aparentemente não.
Estávamos num impasse, de maneira que o rapaz lá mandou os carros andarem para trás, eu tirei o meu do caminho, e eis que a minha genial amiga com memória ao retardador, saca do telemóvel onde tinha uma fotografia do lugar onde tínhamos estacionado.
Subi para o carrinho de golfe com o meu amiguinho novo, percorremos o parque durante o que me pareceu uma meia hora, e lá encontramos a máquina. Procuramos nas ranhuras todas, em cima, debaixo, no lixo, mas nada. Então ele concluiu que talvez o bilhete tivesse ficado preso no interior da máquina, mas para a abrir teria de ser o superior. Comunicou via rádio e lá surgiu então outro carrinho com o dito superior que escarafunchou nas entranhas do aparelho até concluir que dos 27 bilhetes que lá estavam nenhum era meu.
“Teremos de fazer o procedimento de bilhete perdido”, concluiu ele. Aí confesso que a tampa me saltou um nadinha. Pois se eu tinha na mão um comprovativo do pagamento com o dia, a hora e, como tinha pago com o multibanco, o meu nome escrito…
Aí ele ficou baralhado, contactou via rádio outra vez e, enquanto aguardava por um veredicto qualquer, o meu telemóvel tocou. Meti a mão dentro da mala e quando a tirei, oh surpresa! sai-me o bilhete do parque.
O senhor olhou para mim, eu olhei para ele, sorrimos os dois, eu desfiz-me em desculpas e lá fomos no carrinho de golfe de regresso à casa da partida, com ele a dizer piadas sobre outros incidentes que já lhe tinham acontecido envolvendo pessoas idosas.
É claro que, quando inseri o bilhete na ranhura para finalmente sair do parque, o tempo tinha passado – teria de ir fazer novo pagamento.
Não sei se ele tinha mais o que fazer ou se foi da minha expressão, entre o desesperado e a bomba relógio, mas ele abriu a cancela e deixou-nos sair.


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Se queres continuar a sorrir, do ginásio deves fugir

Quando tratamos como lixo a preciosa jóia que é o nosso querido corpo, é natural que ele amue e se recuse a fazer-nos as mais elementares vontades, como respirar ou fazer cocó. Nós não o tratamos bem, ele não nos trata bem, é assim a vida.
Um vez amuado, desamuá-lo pode ser tarefa deveras complicada, de maneira que há que lhe lançar desafios que ele possa achar divertidos ou então corremos o risco de isto acabar realmente mal.
Quando decidi mudar o meu estilo de vida, em vez de seguir o elementar conselho que acabei de dar (o tal Frei Tomás), fiz precisamente  contrário e cometi o erro mais frequente entre a maioria de nós, malta das decisões drásticas e estúpidas: inscrevi-me num ginásio. Pois então se era para mudar, mudava como deve ser. À bruta.
Ainda nem tinha entrado a porta e já o backdraft me atingia nas ventas.
Para começar, o outfit. Oh, céus, aquilo era um festival de calças de lycra com padrão de camuflado e riscas fluorescentes, de tops justos e mangas à cava, de garrafas high tech com líquidos espumosos, de gadgets electrónicos com auscultadores e música e gráficos para monitorizar sabe-se lá o quê, de mamas hirtas e rabos firmes e salientes, de sapatilhas tecnologicamente mais avançadas que os foguetões da NASA.
E eu?
Bem, eu era mais o género idosa demente foragida da instituição que a mantém cativa há décadas: calças de algodão mais velhas que o meu casamento, t-shirt da Galp branco amarelado com a gola toda cambada, ténis da filha mais nova e toalha turca cor de rosa. O toque de modernidade, esse ficou-se pela garrafa de 33cl de água de Monchique.
Mas fugi, perguntarão? Claro que não, isso seria se fosse esperta. Não fugi. Pelo contrário, não querendo borregar logo ali, afinal a pessoa tem a sua dignidade, apressei-me a cometer o erro número dois: aceitei uma sessão de personal trainer que o ginásio estava a oferecer.
Sem o menor interesse em fazer má figura, já bem bastava o que bastava, perfilei-me junto do pequeno poste de cabeça rapada e cheiro a sovaco, com idade para ser meu filho, que me calhou em sorte (ou em azar) e fiz (ou tentei fazer) tudo o que ele me mandou: subi para a passadeira e corri como uma fugitiva, desci da passadeira e remei como uma condenada, subi para uma bicicleta e transpirei substâncias que, juro, me faziam falta para continuar viva. Torturei as minhas desgraçadas banhocas numa variedade de aparelhos hidráulicos que só existem para nos esfregar na cara quão merdosa está a nossa forma física: o das hérnias nas costas, o da paralisia nos peitorais, o das fracturas nos braços, o das lesões nas pernas. Gemi e lamuriei-me de forma tão pungente que começaram a vir pessoas ver o que se passava. Aí voltei-me para o meu compacto e entusiástico carrasco, dei três gritos e disse-lhe que me ia embora. Ele não esmoreceu, pelo contrário, considerou que eu precisava de motivação extra e espetou comigo num colchão onde me agarrou nos pés e forçou a exercícios daqueles que causam espasmos nos abdominais enquanto berrava “força”, “vai com garra”, “não desistas”.
E, apesar de ter morrido ali por alturas do remo, apesar do pivete a sovaco que afinal acho que era meu, e apesar do rapazinho me tratar por tu, eu não desisti.
Quer dizer, não desisti de viver, mas passaram muitos meses até voltar a meter lá os pés.


quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Para mudarmos as vistas, temos de ser realistas

Mudar de estilo de vida parece complicado, parece uma tão grandiosa trabalheira que desmotiva - prova disso são os últimos 40 anos da minha vida. Mas, na realidade, a internet diz que é bastante simples, afinal não vamos ser atletas olímpicos nem vamos agora de repente fazer um Iron Man, vamos só procurar ter mais qualidade de vida.
Para isso basta termos presentes as 3 regras fundamentais:

1 – Sejamos realistas.
“A partir de amanhã vou deixar de fumar, fazer exercício todos os dias, emagrecer 15 quilos e dizer não ao trigo, ao glúten, ao açúcar, à gordura e aos alimentos processados”. Esqueçam. Sejamos realistas. Escolhamos uma e apenas uma mudança para fazer. É emagrecer? É comer melhor? É fazer exercício? É deixar de fumar? Foquemos-nos no que conseguimos fazer com mais facilidade primeiro e depois logo se vê.

2 - Sejamos realistas
Estabeleçamos metas que estejam ao nosso alcance. Ninguem corre uma maratona em 15 dias. Ninguém perde 35 quilos em 1 mês. Ninguém se torna um especialista em alimentação saudável numa semana. Ah, e ninguém consegue fazer as pernas ficarem mais compridas. Ninguém. Nunca.

3 – Ouviram? Sejamos realistas!
De repente tudo o que comemos demora 4 horas a ser confeccionado? Achamos mesmo que vamos passar a ir ao ginásio diariamente de manhã e à hora do almoço? Subitamente todos os vegetais que consumimos têm de ser biológicos, sustentáveis e comprados na mercearia espectacular que fica a 25 quilómetros da nossa casa? Pá, as mudanças não se fazem sozinhas, planeemos o nosso dia incorporando nele as alterações que decidimos fazer. E sejamos realistas, desenhemos plano que possamos cumprir. Tá?

(vou ali dar uns tabefes numas lentilhas que deixei a demolhar na semana passada. Já desenvolveram coisas com pernas, não tarda nada estão na sala a ver televisão, as malandras).