domingo, 10 de dezembro de 2017

Another day at the office

Há uns dias fui ao centro comercial Colombo. Fui por obrigação profissional, porque ninguém me apanha ali por opção. Lido mal com espaços muito grandes e tenho graves problemas de orientação em estacionamentos, de maneira que vou lá o mínimo possível.
Mas fui. Felizmente acompanhada.
Apesar de ter Via Verde no carro, nem sei bem porquê, tirei um bilhete à entrada do estacionamento. Guardei-o religiosamente, ciente da gigantesca probabilidade de lhe perder o tino. Fixei o lugar, tudo direitinho, e quando saímos, Milagre! eu sabia onde estavam ambos – o carro e o bilhete. Dirigi-me a uma caixa automática, abri a carteira e verifiquei que não tinha um tostão. Já a minha amiga sacava da carteira quando reparei que a caixa do lado permitia pagamentos com cartão multibanco. Toda contente lá fui experimentar, nunca tinha utilizado uma máquina daquelas.
Correu bastante bem, foi rápido e viemos embora. Quando estávamos quase no carro lembrei-me que tinha deixado o bilhete pago na máquina. Voltamos atrás, a minha amiga perguntou ao senhor que estava a pagar se por acaso o tinha encontrado e o senhor estendeu-lho.
Agradecemos aliviadas, voltamos para o carro e arrancamos em busca de uma saída. Já disse que detesto aquele centro comercial e esta é uma das razões: podemos morrer de fome e sede e afogar-nos em xixi antes de encontrarmos uma saída. Mas depois de voltas e mais voltas lá conseguimos. Enfiei o bilhete na ranhura e apareceu uma mensagem antipática a dizer vire o bilhete. Nem se faz favor nem nada, só assim: vire o bilhete. E eu virei. Mas a mensagem apareceu de novo: vire o bilhete. E eu virei. E fui virando o bilhete de um lado para o outro, de cima para baixo, mas a máquina continuava casmurra: vire o bilhete. O par de carros atrás de nós começou a compor-se numa fila jeitosa e eu decidi tocar à campainha a pedir ajuda. Enquanto esperávamos os stressados da fila começaram a buzinar, aquelas cenas do costume como se ajudassem alguma coisa. Lá apareceu um rapazinho todo simpático que olhou para o meu bilhete e disse: “minha senhora, isto não é o bilhete, é o recibo”.
Como o recibo? E o bilhete onde estaria então? Na máquina, talvez. Sugeriu então que eu voltasse atrás para ver se o encontrava. Eu olhei para ele com atenção, só para verificar se ele não estava a gozar comigo. Então como poderia eu saber qual era a máquina onde tinha feito o pagamento? Ele nem tinha a noção do milagre que era eu ter encontrado o carro, quanto mais. Além disso, se eu tinha ali o comprovativo do pagamento não bastava para me abrirem a cancela? Aparentemente não.
Estávamos num impasse, de maneira que o rapaz lá mandou os carros andarem para trás, eu tirei o meu do caminho, e eis que a minha genial amiga com memória ao retardador, saca do telemóvel onde tinha uma fotografia do lugar onde tínhamos estacionado.
Subi para o carrinho de golfe com o meu amiguinho novo, percorremos o parque durante o que me pareceu uma meia hora, e lá encontramos a máquina. Procuramos nas ranhuras todas, em cima, debaixo, no lixo, mas nada. Então ele concluiu que talvez o bilhete tivesse ficado preso no interior da máquina, mas para a abrir teria de ser o superior. Comunicou via rádio e lá surgiu então outro carrinho com o dito superior que escarafunchou nas entranhas do aparelho até concluir que dos 27 bilhetes que lá estavam nenhum era meu.
“Teremos de fazer o procedimento de bilhete perdido”, concluiu ele. Aí confesso que a tampa me saltou um nadinha. Pois se eu tinha na mão um comprovativo do pagamento com o dia, a hora e, como tinha pago com o multibanco, o meu nome escrito…
Aí ele ficou baralhado, contactou via rádio outra vez e, enquanto aguardava por um veredicto qualquer, o meu telemóvel tocou. Meti a mão dentro da mala e quando a tirei, oh surpresa! sai-me o bilhete do parque.
O senhor olhou para mim, eu olhei para ele, sorrimos os dois, eu desfiz-me em desculpas e lá fomos no carrinho de golfe de regresso à casa da partida, com ele a dizer piadas sobre outros incidentes que já lhe tinham acontecido envolvendo pessoas idosas.
É claro que, quando inseri o bilhete na ranhura para finalmente sair do parque, o tempo tinha passado – teria de ir fazer novo pagamento.
Não sei se ele tinha mais o que fazer ou se foi da minha expressão, entre o desesperado e a bomba relógio, mas ele abriu a cancela e deixou-nos sair.


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