Antes do espectáculo nada como fazer um ensaio geral com
público e tudo. Vai daí, fiquei muito contente quando, a cerca de duas semanas
da partida, a Inês me enviou um email a desafiar-me para uma caminhada
organizada - pois que seria um bom treino, com certeza. Pessoalmente há já uns
dias que andava na ronha sem mexer o rabo para nada, farta que estava de
praticar tão intensa actividade sozinha. Por isso a ideia pareceu-me excelente.
Calçamos as nossas meias e botas, carregamos as mochilas com
o saco-cama, protector solar, água e meia dúzia de mantimentos, sacamos dos
nossos recém adquiridos bastões de caminhada (um para cada uma) e lá fomos nós,
rumo à Serra do Risco, algures na Arrábida.
O programa, organizado pela GreenTrekker, uma empresa super
cool que promove caminhadas por este mundo afora e por este Portugal adentro,
consistia num percurso de cerca de 15 km com nível de dificuldade 4 em 5 -
detalhe que provocou o surgimento imediato de temerosas imagens de escarpas
aguçadas e precipícios instáveis (aventuras para as quais tenho propensão zero)
e me deixou um bocadinho enervada.
Seríamos 15 com encontro marcado para as 10 da manhã num
café algures na Serra e regresso previsto para as 16.30h. Como a minha
experiência, pouco vasta é certo, mas suficiente, me indicava que 15 km se
fazem na boa em 3 horas, 3 horas e meia vá, a duração estimada de mais de 6
horas adicionou alguma agitação ao meu já perturbado intestino, forçando-me a
aplacá-lo no simpático lavabo do pequeno café de onde partimos com cerca de 15
minutos de atraso.
O começo foi fácil, estrada de alcatrão seguida de estradões
em terra, tudo simples e inofensivo com belas vistas e companheiros simpáticos.
Passados uns quilómetros paramos para um chá gentilmente
oferecido pelo Miguel, o monitor, que nos avisou que a partir dali é que a
coisa apertava, pois seguiríamos pelo meio de carrascos (planta cuja
surpreendente agressividade explica o nome dado à profissão e talvez à Serra)
sobre uma laje inclinada e um pouco escorregadia. Aí agitaram-se-me outra vez
os nervos mas à falta de local apropriado para os acalmar optei por pensar
noutra coisa e seguir atrás do homem.
Apesar de agressivo, quase sem trilho, o caminho fez-se bem
- só nos aproximamos de falésias abruptas quando quisemos tirar fotografias - e
até terminamos mais cedo que a hora prevista.
As botas e meias cumpriram o seu propósito na perfeição -
protegendo os pés e tornozelos e evitando as escorregadelas - e as calças (que
só levamos porque perguntamos se era suposto, caso contrário os planeados
calções ter-se-iam revelado trágicos) protegeram-nos bem as pernas. O chapéu
foi uma má opção porque os furinhos deixam passar muito sol, mas a aba larga
foi útil a proteger esta minha carinha que se pretende, ainda que por pouco
tempo, laroca. A t-shirt teve nota 10. A mochila, apesar de demasiado volumosa
para atravessar a mata de carrascos, portou-se muito bem em todos os outros
sentidos, mas o bastão foi mais um empecilho que uma ajuda, até porque a certa
altura eu pendurei-o na mochila, que tem um suporte próprio, e passava o tempo
a pender-se nos arbustos e a puxar-me para trás.
O Miguel, que já fez o Caminho de Santiago não sei quantas
vezes, explicou-nos que para caminhadas grandes como a que vamos fazer é melhor
levar dois bastões. Além de ajudarem nas subidas e descidas, quando bem
utilizados também ajudam nas rectas e ainda evitam o inchaço das mãos, que a
mim tanto acontece.
Registado.
Resumindo, ensaio geral superado. Estamos prontas.
A bela paisagem |
o raio do carrasco |
Sem comentários:
Enviar um comentário
Se também acha que, diga aqui: